Há algum tempo atrás quando eu ainda tinha saco, fui pra uma festa com uma fake cara de vodka demais pra evitar conversar e um cara encostou. Disse que queria conversar. De fato, queria. Aliás, ele só queria conversar mesmo. Passou meia hora discursando sobre a vida dele e só parava pra dizer que estava enchendo meu saco. Mas eu tinha que pelo menos fingir que sou educada, colocar a mão sobre o colo e ouvir atentamente, com a mesma placidez de quem faz tricô na varanda de casa. "Desabafe, meu caro". Entre goles de vodka, sonhos e casualidades ele tenta se defender quando eu brinco sobre as intenções dos homens na balada. Ele concorda discordando: "Imagina que o mundo tem dois milhões de pessoas. Desses dois milhões, 1 milhão e meio é gay. Trezentos mil são bi. E os duzentos mil que sobraram são héteros. E 1% desses duzentos mil são caras fiéis como eu, que têm namorada e vão pra balada sem ficar com ninguém". "Idiota", eu pensei. "Eu sozinha aqui, ele senta, ocupa meu tempo, fala que tem namorada e ainda diz que faz parte dos 1% que são fiéis". "Muito prazer, meu amigo". Olho pro céu e resmungo que só eu mesma pra ir na balada conhecer alguém que faz parte desses raros 1% mas já é comprometido”. Nessa hora a torcida do São Paulo levanta e grita: Loser!
Pelas estatísticas, decidir aderir ao fato de que as pessoas realmente interessantes estão em casa assistindo filme iraniano e não na balada, impregnadas de cigarro, tropeçando de tão bêbadas e sacudindo a escassa massa cerebral ao som de tutz-tutz, ou putz-putz, como dizem por aqui. E depois desse fato passei a esperar o príncipe encantado em casa mesmo. E decidi que quando ele tocasse a campainha, eu iria abaixar o volume de "Desperate Housewives", assumiria a cara de colchão, giraiar a chave, encostaria na porta e dizia: "Você tá atrasado".
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