quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Make it double, please.

"Homem é que nem biscoito: vai um vem dezoito". Taí, essa é a frase mais mentirosa que as mulheres inventaram nos últimos tempos depois da famosa “hoje não, eu tô com dor de cabeça". Sendo um pouco flexível, arriscaria dizer que dezesseis desses possíveis dezoito são do tipo que você encontra na balada. Tem os bêbados, os babacas, os drogados, os nerds, os bombadinhos, os vítimas da sociedade, os perdidos e os gloriosos não-vou-te-ligar-no-dia-seguinte-mas-me-dá-teu-telefone. Peça pelo número, querida, tem várias opções. Tudo mercadoria sem nota. Voltando à quantidade de homens. Dezoito? Diga sinceramente: qual foi a última vez que você, inclusive, viu dezoito homens juntos no mesmo lugar? No estádio? Tá, mas de olho em quem? Nas coxas do artilheiro. Ah, talvez eu seja exigente demais com biscoito.

Há algum tempo atrás quando eu ainda tinha saco, fui pra uma festa com uma fake cara de vodka demais pra evitar conversar e um cara encostou. Disse que queria conversar. De fato, queria. Aliás, ele só queria conversar mesmo. Passou meia hora discursando sobre a vida dele e só parava pra dizer que estava enchendo meu saco. Mas eu tinha que pelo menos fingir que sou educada, colocar a mão sobre o colo e ouvir atentamente, com a mesma placidez de quem faz tricô na varanda de casa. "Desabafe, meu caro". Entre goles de vodka, sonhos e casualidades ele tenta se defender quando eu brinco sobre as intenções dos homens na balada. Ele concorda discordando: "Imagina que o mundo tem dois milhões de pessoas. Desses dois milhões, 1 milhão e meio é gay. Trezentos mil são bi. E os duzentos mil que sobraram são héteros. E 1% desses duzentos mil são caras fiéis como eu, que têm namorada e vão pra balada sem ficar com ninguém". "Idiota", eu pensei. "Eu sozinha aqui, ele senta, ocupa meu tempo, fala que tem namorada e ainda diz que faz parte dos 1% que são fiéis". "Muito prazer, meu amigo". Olho pro céu e resmungo que só eu mesma pra ir na balada conhecer alguém que faz parte desses raros 1% mas já é comprometido”. Nessa hora a torcida do São Paulo levanta e grita: Loser!

Pelas estatísticas, decidir aderir ao fato de que as pessoas realmente interessantes estão em casa assistindo filme iraniano e não na balada, impregnadas de cigarro, tropeçando de tão bêbadas e sacudindo a escassa massa cerebral ao som de tutz-tutz, ou putz-putz, como dizem por aqui. E depois desse fato passei a esperar o príncipe encantado em casa mesmo. E decidi que quando ele tocasse a campainha, eu iria abaixar o volume de "Desperate Housewives", assumiria a cara de colchão, giraiar a chave, encostaria na porta e dizia: "Você tá atrasado".

0 comentários: