O grande problema do homem é o microfone. Dê a ele um microfone – e a isso me refiro a dar atenção, voltar olhos e ouvidos, ok, vocês entenderam – e ele falará qualquer besteira. Só falará besteira. Talvez uma coisa interessante aqui ou ali, mas de fato, resumindo, juntando tudo e colocando num pote, sairá apenas besteira. Ah, como o ser humano fala besteira. Em agências de publicidade isso acontece o tempo inteiro sem parar. Dê um microfone para um atendimento e espere. Ele destruirá a sua linda e trabalhosa campanha com mil receios e argumentos bundões. Nos primeiros minutos eles te escutam, ou fingem bastante bem. Na verdade, estão juntando argumentos, fazendo uma lista na memória, lembrando de tudo o que o cliente pode talvez quem sabe não gostar. E jogam isso devagarzinho para você, começando com um “sabe o que eu acho?”. Derrubam tudo.
A culpa não é só deles. Admito. Boa parte desse despreparo e desse incrível medo de ousar, vem do cliente. Estes têm o microfone ligado no volume máximo. Falam o que querem, mudam o que querem, criam na hora uma frase que você demorou cem frases para fazer. Todo mundo é redator, todo mundo é diretor de arte. O cliente tem o maior microfone do mundo. E nem vou perder linha desse texto falando sobre o “profissional de marketing”.
No Domingão do Faustão os convidados têm microfones espetaculares. O próprio Faustão tem um incrível. Mas os convidados, quando precisam falar sobre temas delicados, como guerras, fome, células-tronco ou até temas mais simples (mas não menos complexos), como o ciúme, a paixão, a traição, falam umas asneiras que me doem os ouvidos. Doem mesmo.
Tem também as tias das namoradas. As tias das namoradas merecem um parágrafo porque usam você como platéia. Como os maridos não as escutam mais e elas precisam de um espectador masculino, sobra para você, que é legal a maior parte do tempo e quer o melhor para a sobrinha delas. O problema é que essa tia ocupa todos os espaços da sala emendando um assunto no outro sem nem perceber que acabou a cerveja do seu copo e você quer, precisa, um pouco mais. Na casa das tias da namorada, namorado nenhum tem opinião.
Mas ainda não chegamos no pior tipo de palestrante que existe. O pior tipo de palestrante que existe é aquele nasce com o microfone colado ao corpo, no maior estilo Silvio Santos (pronto, chegamos). Tente lembrar: você certamente possui um amigo, um primo ou um colega de trabalho que é assim. Opinam absolutamente sobre tudo. Fale de futebol e ele chamará a atenção para si, falando sobre futebol, mesmo que entenda pouco ou quase nada do assunto. Fale de forró, tricô ou mini-bugues e ele terá uma história melhor que a sua. Fale de novela e, caso ele não goste de novela, vai falar que “se tem uma coisa que eu não gosto é de novela! Deus me livre das novelas! Pra vocês terem uma ideia, a última a que assisti foi Tal! Aquilo sim era novela! Novela Tal!” Pronto, ele volta à cena, discorrendo sobre a novela Tal com mil recordações: personagens, jargões, cenas divertidas, enquanto você, que sabe tudo do tema, precisa prestar atenção.
É sério. O palestrante sempre tem uma piada melhor que a sua, uma história mais interessante que a sua, ele já foi assaltado mais vezes que você, marcou um gol de bicicleta, viu seis vezes aquele filme e leu oito aquele livro, de trás para frente. O palestrante ri mais alto, porque até o riso dele tem que chamar atenção, senta na cabeceira, não come qualquer tipo de queijo ou, ao contrário, come todos sem saber a diferença - deixando bem claro que não liga para a diferença. O palestrante ama ou odeia tudo. É um sujeito de extremos. Ele pode ser muito legal ou pode ser muito chato. Mas ele tem que aparecer.
A verdade é que todo mundo tem seu momento palestrante. Nem adianta se esconder. Todo mundo tem um espaço onde é ouvinte, mas também tem um espaço onde é palestrante. Com a namorada, com os amigos de infância, na mesa de jantar. Alguns falam muito na casa do pai e pouco na casa da mãe. Outros possuem microfones com a turma da faculdade e são mudos com o pessoal do estágio. Isso muda em cada círculo. Mas quem tem voz, quer falar. E bom seria se todos nós discutíssemos apenas sobre o que entendemos. Se discutíssemos apenas sobre o que entendemos, o mundo teria conversas mais interessantes.
Por isso repito: o grande problema do homem é o microfone. E o grande problema, insisto: é que gostamos do microfone. De ser palestrantes. Queremos uma platéia. Queremos mesmo. Para conquistar uma menina, os amigos, o chefe. Gostamos do microfone e é esse o nosso grande problema – é esse o grande problema da humanidade. Você pode ter orgulho de ser ouvinte, querido leitor. De ser um cara simples, humilde e pouco vaidoso, mas quando colocarem um microfone na sua mão, vai gostar. Sei que vai gostar. E vai acabar falando besteira. Acontece com todo mundo. Aliás, não sei se deu para perceber, mas está acontecendo comigo desde que o texto começou.
Que os leitores me desculpem.
Há um mês
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